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criança, eu via mainha costurar seus panos e achava aquilo bonito. tempos depois, comecei tecendo palavra e fui fazendo alinhavos de poesia imagem palavra. quando dei fé na possibilidade de costurar papel e criar meus próprios cadernos, quis também fazer livro para voar. tomei gosto.
quando comecei acreditar nessa coisa delicada de costurar livro à mão, foi então um caminho (cheio de curvas, totalmente) sem volta. a paixão de fazê-los me provoca a pesquisa constante por modos de ampliar o corpo das palavras ~ o livro jamais será um mero suporte, quando pode ser ele próprio uma rica experiência artística.
minhas mãos nasceram primeiro que o restante do corpo ~ escrevi um dia desses. e isto reverbera vida adentro : as mãos da andarilha edições nasceram antes mesmo do seu nome.
em 2015, aventurei na autopublicação e estreei com um livro de cartas à Tereza : fragmentos de uma correspondência incompleta, fruto de pesquisas artísticas que relacionam ficção, carta, caminhar, corpo, deslocamentos, casa, memória, procura, encontros, etc. [veja aqui, algumas ações do projeto]
em outubro daquele ano, durante a Flica – festa literária internacional de Cachoeira – Ba, comecei espalhando 100 maços de cartas, feitos à mão e em casa : diagramação, impressão, refilamento, costuras. aconteceu com o apoio de algumas mulheres que leram, revisaram, encorajaram (Yolanda, Maíra, Julia) / e outras que, além disso, tomaram a linha e a agulha (Luana com a encadernação, Tereza Cristina com a costura da capa-envelope).
não sabendo que era impossível, fui lá e fiz ~ fizemos.
exatamente um ano depois, foi a vez de ‘desavesso’, um livro-objeto onde reuni fotografias e uma série de poemas-errantes, poemas-pagãos, poemas-comprimidos, poemas-de-bicicleta, poemas-de-amor-violado e poemas-de-avesso.
desde as duas primeiras vivências com publicação independente, e para além da publicação em si, ramificou-se, em minha poética de escrituras ampliadas a outros formatos, o processo de sempre considerar, experimentar, ressignificar o suporte livro, pensando-o também enquanto objeto de experiência artística. livro-objeto, livro de artista, ou, livro para leitura de corpo-todo, tornou-se minha principal mídia para trabalhar diversas das linguagens artísticas que então me interessavam.
depois de quatro anos afiando a lentidão das agulhas, dou à luz a andarilha edições ~ uma costureira de livros, caminhante desde o ventre recôncavo baiano.
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